Santa Maria, 20.02.13. 24 dias.
Não consigo identificar a fase que estou passando, não sei dizer se estou bem, não sei dizer se tenho medo, não sei dizer o que estou sentindo. Existe uma mistura de sentimentos no momento, mas, apenas de sentimentos bons. Depois do dia 27 é praticamente impossível existir algum sentimento ruim. Raiva? Eu não sinto raiva de ninguém, não tento atirar raiva sobre culpados. É claro que eles existem, donos da casa, bombeiros, prefeitura e até mesmo eu. Sim, eu mesma! Que ia quase todos os finais de semana na Kiss, que tinha lá como um lugar de trabalho em alguns finais de semana e que nunca reclamei por ter apenas uma porta. A Kiss era um lugar ótimo, um lugar divertido e que me trazem ótimas recordações. Infelizmente, ela se tornou o lugar que me trouxe a maior tristeza.
Desde as 5h do dia 27, hora que acordei com a minha tia ligando pra saber se eu estava em casa, eu já estou diferente e a cada dia que passa eu mudo mais um pouco. Me fiz tantas perguntas depois desse dia e agradeço por tantos acontecimentos daquele sábado que me salvaram de estar no meio de tudo isso e que salvaram muitos amigos, pena que nem todos puderam ser salvos. Agradeço por ter a junção no Renan, que foi o motivo da Marina recusar meu convite para ir na Kiss, agradeço a existência das duas festas dos blocos de carnaval, uma em Caçapava do Sul e outra em Faxinal, onde muita gente, que sempre estava presente na Kiss, escolheu ir para essas festas, agradeço aos pais que insistiram para seus filhos não irem na Kiss aquele dia.
Sei que já se passaram 24 dias, mas para mim parece que foi ontem. Viajei, fiquei 5 dias fora, cheguei na quinta as 11h, vim pra casa, me arrumei e fui pra aula. Chegando na aula comecei a lembrar de tudo o que tinha acontecido e que não era um pesadelo, tudo aconteceu mesmo. Paralisei em frente aos meus colegas, não via nada, só escutava a voz de cada um realizando a sua auto avaliação e percebi que algumas lágrimas caiam no meu rosto. Quando chegou a minha vez meu professor disse 'Fran, tem condições de falar?' Eu tinha condições, fiz minha avaliação com palavras e lágrimas. Foi bom, seria ruim se eu não tivesse falado, se tivesse fugido.
Sei que já se passaram 24 dias, estou me divertindo com amigos que me aproximei depois de tudo que aconteceu, estamos nos levantando juntos e esses momentos estão sendo maravilhosos.
Mas, mesmo assim continua sendo difícil, continua sendo doloroso quando fico sozinha.
Sei que já se passaram 24 dias, sei que tenho que voltar a vida normal, a minha rotina. O que eu quero agora? Força, fé e esperança.
Hoje é um dia importante pra mim, estou considerando um dia de mudança. Pois, hoje vou em dois eventos que unem as coisas que eu mais amo fazer, mas que não consegui depois do acontecido.
Uma entrevista para um jornal da cidade sobre o Cometa Mambembe, onde vou tocar e estar com pessoas que eu amo e a minha estréia no Esquadrão da Alegria, hoje eu vou entrar no hospital e levar alegria pra quem precisa.
Eu preciso seguir, preciso continuar fazendo o que fazia antes. Tenho que seguir em frente pelas pessoas que estão brilhando lá em cima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário